O
“cisco” e a “trave”
“Por que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, vós que não vedes uma
trave no vosso olho? Ou como dizeis ao vosso innão: Deixai-me tirar um argueiro
do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso? Hipócritas, tirai
primeiramente a trave do vosso olho, e então vereis como podereis tirar o
argueiro do olho do vosso irmão.”
(ESE
- Capítulo 10, item 9.)
Os indivíduos em plenitude não negam suas emoções; permitem que
elas venham à tona, e, como elas estão sob seu controle, reconhecem o que estão
lhes mostrando sobre seus sentimentos, suas inclinações e suas relações com as
pessoas.
As emoções devem ser “integradas”, ou seja, primeiramente, devemos
nos permitir “senti-las”; logo após, devemos julgálas e
“pensar” sobre nossas necessidades ou desejos; e, a partir disso,
“agir” com nosso livre-arbítrio, executando ou não, conforme nossa
vontade achar conveniente.
O mecanismo de nos “consentir”, de “raciocinar” e de
“integrar” emoções determinará nossos êxitos ou nossas derrotas
nas estradas de nossa existência.
Emoções são muito importantes. Através delas é que nos individualizamos e nos
diferenciamos uns dos outros. Ninguém sente, pois, exatamente igual, isto é,
com a mesma potência e intensidade, seja no entusiasmo em uma situação
prazerosa, seja na frustração ao observar uma meta perdida.
Podemos pensar igual aos outros, mas para um mesmo pensamento criaturas
diversas têm múltiplas reações emocionais.
Assim
considerando, emoções não são certas ou erradas, boas ou impróprias, mas apenas
energias que dependem do direcionamento que dermos a elas. Reconhecê-las ou
admiti-las não significa, de modo algum, que vamos sempre agir de acordo com
elas.
Quando negadas ou reprimidas, não desaparecem como por encanto;
ao contrário, sendo energias, elas se alojarão em determinados órgãos e
congestionarão as entranhas mais íntimas da estrutura psicossomática dos
indivíduos.
Ao abafarmos as emoções, podemos gerar uma grande variedade de
doenças autodestrutivas. Abafá-las pode também nos levar a reações muito
exacerbadas ou à completa ausência de reações, a apatia.
Portanto, quando tomamos amplo contato com nosso lado emocional,
começamos a reconhecer vestígios a respeito de nós mesmos, que nos
proporcionarão autodescoberta, auto-preservação, segurança íntima e crescimento
pessoal.
Ora, se o Poder Divino, através de sua criação, pelo próprio
mecanismo da Natureza, delegou as emoções a todos os seres vivos, conforme seu
grau de evolução, não poderemos simplesmente negá-las, como se não servissem
para nada. Tristeza, alegria, raiva ou medo são emoções básicas e deveremos
usá-las como bússolas que nos nortearão os caminhos da vida.
Elas estão conectadas a nosso sistema de pensamento
cognitivo” - atividades psicológicas superiores, tais como: a percepção,
a intuição, a memória, a linguagem, a atenção e os demais processos
intelectuais e espirituais.
Ao ignorarmos nossas reações emocionais, não investigando sua
origem em nós mesmos, teremos sempre a tendência de projetá-las nos outros.
Além do que, seremos seres psicologicamente claudicantes, por não integrarmos
nossas emoções aos nossos cinco sentidos, que nos facilitam a análise das
pessoas e de nós mesmos.
A tendência que certos indivíduos têm de atribuir falhas e erros
a outras pessoas ou coisas, não enxergando e não admitindo como sendo suas,
denomina-se “projeção”.
As vezes, tentamos fazer nossas emoções desaparecer, porque as
tememos. Reconhecer o que realmente sentimos exigiria ação, mudança e decisão
de nossa parte, e muitas vezes seríamos colocados face a face com verdades
inadmissíveis e inconcebíveis por nós mesmos; e assim, tentamos projetá-las
como sendo emoções não nossas, mas dos outros.
“Não sinta isso, é feio” - essa é uma das muitas
velhas mensagens que ecoam em nossa mente desde a mais tenra infância; com o
passar do tempo, julgamos não mais senti-las, porque as escondemos da recriminação
dos adultos.
Em razão disso, certos indivíduos condenam com veemência os
“ciscos” nos outros, pois vêem em tudo luxúria e perversão,
desonestidade ou ambição. É possível que esses mesmos indivíduos estejam
reprimindo o reconhecimento de que eles próprios trazem consigo emoções sexuais
e perversidades mal resolvidas, ou, em outros casos, emoções desmedidas de fama
e de dinheiro projetadas sobre todos os que são por eles denominados ambiciosos
e desonestos.
Na indagação “ou como dizeis ao vosso irmão: deixai-me
tirar um argueiro do vosso olho, vós que tendes uma trave no vosso?”,
Jesus reconhecia a universalidade desse processo psicológico, “a
projeção”, e, como sempre, asseverava a necessidade da busca de si mesmo,
para não transferirmos nossos traços de personalidade desconhecidos às coisas,
às situações e aos outros.
O Mestre nos inspirava ao mergulho em nossa própria intimidade,
a fim de que pudéssemos enxergar o “lado obscuro” de nossa
personalidade. Ao tomarmos esse contato imprescindível com nossas
“sombras”, a consciência se torna mais lúcida, crítica e
responsável, descortinando amplos e novos horizontes para o seu desenvolvimento
e plenitude espiritual.
Finalizando,
atentemos para a análise: “as condutas alheias que mais nos irritam são
aquelas que não admitimos estar em nós mesmos” “os outros nos
servem de espelho, para que realmente possamos nos reconhecer”.
RENOVANDO ATITUDES
FRANCISCO DO ESPÍRITO
SANTO NETO
DITADO PELO ESPÍRITO
HAMMED